terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Carlinhos cabeça branca não morreu


Ao contrário de um boato surgido, Carlinhos cabeça branca não morreu. Não.  Ele não nos deixaria tão cedo. Ele ainda tem que ir pra sua casa de veraneio na praia e pilotar seu bugre velho fumando aquele saboroso e maldito cigarro com gosto delicioso de mato seco. (não obstante vários amigos lhe dizerem: abandone esse veneno!) Mas ele precisava saciar sua vontade de absorver e expelir fumaça. Alguém que nunca fumou já imaginou quanto prazer existe no ato de fumar para o fumante contumaz? ou no carteado para o jogador,  na pelada para o futebolista, na cervejinha para o beberrão, nas letras para o escritor – e para o leitor, no namorar para o enamorado, no pescar para o solitário? Carlinhos cabeça branca precisa ir rondar com Catita, fazer pouco caso dos  formalistas e cuidar da sua família na casa que, com sacrifício e orgulho, construiu no Orlando Dantas nos tempos das vacas magras da Polícia Civil. Precisa ir conversar com o chefe maior – chamando-o de pai véio – e ponderar a favor de alguém. Em sua espontaneidade se confundiam o cidadão, o colega, o amigo, o homem humano... Ando tentando encontrá-lo pelos  corredores do COPE, nessas viaturas que circulam pela cidade ou no Recanto da Comida Caseira. Qualquer hora dessas irei encontrá-lo preocupado comigo e ouvir algumas das suas advertências que sempre me aconselhavam. Carlinhos de cabelos brancos derramados na sua alma alva. Está ficando difícil achá-lo nesse mundo moribundo de tantos valores mortos. Mas ele está por ai, depois de nos pregar uma peça quando se fingiu de morto. Isso eu não vi, felizmente. Por isso a sua imagem está bem viva, sempre viva a ensinar simples, mas profundas, lições para os tolos como eu.

Alberto Magalhães

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