sexta-feira, 3 de novembro de 2017

Resumo da história recente da Polícia Civil sergipana




A Polícia Civil sergipana era muito diferente do modelo atual. Tanto que no ano de 1989 quem a comandava era um coronel da Polícia Militar, o saudoso João Barreto Mota, homem de fibra com quem tive a honra de trabalhar, sucedido por um também coronel, mas esse do exército brasileiro - EB, homem de igual valor. Nesse período, em substituição a Fernando Matos, (1987 a 1989), procurador de justiça, assumia a secretaria da segurança o coronel de exército RR, Eduardo Pereira. A gestão de Eduardo Pereira/Barreto Mota se iniciou no segundo semestre de 1989 indo até março de 1991, data em que, naquela época, era feita a troca de governo.

Os cargos de delegado eram comissionados e, na capital, exercidos por Bacharéis em direito. No interior esses cargos eram ocupados por sargento, tenente ou capitão da PM. Não existia a carreira policial civil, com classes, promoção, delegado concursado, etc. Na maior parte das delegacias do interior não existiam policiais civis para ocupar as delegacias. Policiais militares eram quem fazia o serviço que era nosso. Em verdade prestaram grande serviço à SSP, mas essa política estatal impediu por décadas a estruturação da instituição policial civil. Como contraponto a essa realidade institucional existiam os homens de ouro da PC, a linha de frente, os "cana dura".

Mais da metade do efetivo da PC da capital era composto de servidores simples oriundos de diversos setores da administração pública estadual, requisitados para suprir a demanda decorrente da falta de concurso público para agentes investigadores e escrivães. Eles foram maioria na instituição polícia civil por algumas décadas, porque embora tenha havido concursos públicos em 1979 e em 1983 (quando, ao todo, foram nomeados apenas poucas dezenas de policiais), só no concurso deflagrado em 1987, no início do governo Valadares, foi introduzido na PC uma quantidade significativa de agentes investigadores (mais de 400, num período de dois anos) no seu plano de modernizar a PC, mesmo contra as correntes políticas de então. A entrada de servidores de outros órgãos na PC só foi cessar quando da criação do Quadro Auxiliar, em 1999, que amparou os servidores requisitados até aquela época, vedando o acesso de outros. O Quadro Policial hoje é formado por delegados, escrivães e agentes nas classes especial, 1ª, 2ª, 3ª e substituta. O Quadro Policial Auxiliar é formado por agentes auxiliares e é um quadro em extinção, o que ocorrerá quando o último dos seus componentes se aposentar.

Somente no ano de 1991, na gestão do secretário de segurança Flamarion Dávila e do superintendente Gildo Silveira Mendonça, no governo de João Alves Filho, foi criada a coordenadoria de polícia da capital, ocupada primeiramente pelo advogado Emanuel Cacho; a corregedoria de polícia civil, comandada pelo advogado Jonas Amaral e pelo defensor público Raimundo Veiga. Nesse tempo brilhava uma estrela como superintendente da PC (Chefe de Polícia Cívil) Gildo Silveira Mendonça, Coronel EB RR, imprimindo o profissionalismo na categoria. Nessa gestão, se iniciou a Escola de Polícia, sob a direção do delegado Jocélio Franca Froes, tornando-se academia em 1999, no governo Albano Franco. O COPE veio a ser estruturado pelo delegado João Eloy de Menezes na gestão do secretário João Guilherme, juiz de direito aposentado, na segunda gestão do governador Albano Franco, inaugurando o complexo policial que existe hoje.

Em dezembro do ano de 1993, ainda no governo João Alves Filho, eram incorporados à Polícia civil dezoito delegados aprovados no primeiro concurso público para o cargo (por determinação do STF). Esses delegados foram formados na Academia de Polícia de Minas Gerais, antes de assumirem os cargos. Os delegados comissionados Marco Passos, Paulo Ferreira, Georlize Teles e João Eloy integravam a turma. Ainda assim restaria cerca de noventa vagas, já que, depois dos cargos de direção, havia cerca de vinte unidades policiais civis na capital e setenta e quatro no interior a serem preenchidas. Entre os delegados comissionados que deram a sua contribuição à Polícia Civil a história registra os notáveis, a exemplo dos então bacharéis Ruy Pinheiro, Virgílio Viana, Clélio Lins Batista*, Antonio Melo*, Creso Resende*, João Sacramento*, Edson Trindade, Marco Passos, Eribaldo Cavalcante, Toinho Toyota (também agente policial) e o tenente PM Aragão*. Com a chegada dos delegados concursados a Polícia Civil, começou gradativamente a assumir as delegacias do interior com membros dos seus quadros. 

Durante alguns anos ainda prevaleceu uma significativa quantidade de pessoas assumindo delegacias na capital e interior, nomeados em cargo comissionado, porém já com a nomenclatura de assessor de delegado, embora exercendo a função de delegado de polícia, sempre subordinado ao delegado regional ou titular. Somente no ano de 2002 ingressaram novos delegados aprovados em concurso, realizado no segundo governo de Albano Franco. Mesmo com a chegada dos primeiros delegados concursados da Polícia Civil, em 19994, no governo João Alves, o comando da instituição foi sendo ocupado aos poucos. Começando pela coordenadoria da capital, depois a do interior para, na gestão do secretário da SSP Wellington Mangueira, no início do primeiro governo Albano Franco, a chefia da PC ser entregue ao delegado concursado Paulo Ferreira. Hoje a Polícia Civil sergipana é modelo a ser copiado por outros estados membros da federação brasileira, apesar da grave crise financeira nacional que lhe tira os recursos necessários para a sua atividade mais efetiva em prol de toda a sociedade sergipana.

*in memoriam.

Alberto Magalhães, Agente de Polícia Judiciária de 1ª classe da SSP de Sergipe.

terça-feira, 17 de outubro de 2017

POLICIAIS MORTOS DA POLÍCIA CIVIL DE SERGIPE



 

POLICIAIS MORTOS DA POLÍCIA CIVIL DE SERGIPE

("Não morre quem em outros vive...")

Por enfermidades:

Abel (Bairro Santos Dumont), Seu Abel (Conjunto Bugio), Adelmir Figueiredo, Abílio Gomes da Silva Netto, ADROALDO TELES (Dudu), Alécio, Alberto Fontes, Aloísio pastor, Alberto Maynard, ANA PAULA MOREIRA*, Antônio Maurício (Tonhão), Antônio Siqueira (Siqueirinha), Antonio TORRES, APRÍGIO, Agápito, ARIONALDO Matos, Arnaldo bento, Arnaldo gago, Alzira dos santos, Arthur Gomes, Auxiliadora (Barra dos Coqueiros), Avelino (Conj. Bugio), BOLA, CARLINHOS CABEÇA BRANCA, CARLOS ALBERTO (Carlinhos, irmão de Hamilton), CARLOS ALBERTO BARRIGA, Carlos Alberto Fontes, Carlos Alberto (Eduardo Gomes), Carmen da 5a DM (Gina), CÉSAR GALEGO, Carregosa (Conj. Bugio), CLÁUDIO GACHO, Cléber, Clementino, (Bananeira), Cleómenes, Clélio Lins*, Caçapava, Cirilo, CHACRINHA, CLARK, CRUZ, DACKSON Samico, Dão, Dalmo, DARCI, Dênis, Edimar Menezes Moura, Edmundo, Ednilton Paim dos Santos, ECINHO, EDSON carioca, Eduardo barbudo, Edvan Pinheiro da Silva, ELENITA, ESTANISLAU dos Santos, Everaldo taxista, EZEQUIEL BATISTA, Flavinho, Flávio Luiz, FLORENTINO, Freitas, Garcez Muletinha, Seu Gabriel, Gedeão Cardoso, Genivaldo do Agamenon, GENIVALDO Santana, Germínio, Gilberto Gonçalves (Betinho), GILSINHO, Gilson Oliveira (Coroinha), GILVAN Propriá, Gisélio Gonçalves* (Dr. Gisélio), Givaldo Francisco, Givaldo galeguinho, Hélio Trindade, HENRIQUE COSTA, Hermes (cabeça branca), HERMES SOUZA, Iolando, JACKSON SILVA, JAIRO JOAQUIM, JAZIEL, JOÃO ALMEIDA, JOÃO DEREK (Propriá), João Manoel, João mãozinha, João Valdivino, JORGE RIBEIRO*, JOSÉ AUGUSTO (Dedé, Sassá), José Ricardo dos Santos (dentista),  José Carlos da Silva, JOSÉ RAIMUNDO DE OLIVEIRA (Raimundão), Seu Joaquim, José Zito, José de Jesus (Lebrinho), José de Jesus (Jesus), JOSÉ RESENDE DE SÁ (Resende, Tubarão), José Vieira Sarmento (TERROR), Jucundo Simões, KLÉBER ERNESTO, Kate Marrone (Maria da Conceição Silva), Lavandeira, Leilson, Laurentino, seu Lau, LENO, Lisboa, Seu Lima, LUCIANO ALMEIDA, Luizinho, LUTÉRCIO,  Seu MACEDO, MACIEL, MANOEL MESSIAS do Sinpol, MANOEL MESSIAS das Cajuranas, MANOEL do Sinpol, Manoel III, Manoel Mansinho, Manoel Pororoca, Manoel (Pupu), Marinho, MARCOS GORDO, MARCOS ROLLEMBERG, MOACIR PÉ DE PATO, Murilo Badaró, NELSON Ramos, NILSON PINHEIRO, Nena, Nivaldo Preto, NIVALDO VÁLIDO, Oiama Lobo, Ovídio, Padeiro, Padeirinho, PAULO CÉSAR Paulão, Paulo Vidal, Pedro Ferreira, Pereirinha, Seu Pedrinho, RAIMUNDO NONATO, Resende, RILDO, Rivaldo (Itabaiana), ROSENDINHO, Serafim, SÉRGIO SILVEIRA, STUART,  Tonho Banana, VALMIR, VÂNIA FARIAS, VERÔNICA LAKE, VICENTE, WAYNE, WENDEL da Silva Gonzaga, Wilson taxista, ZÉ AMÉRICO sanfoneiro, ZÉ LUIZ DOS CAVALOS, Zé Otho, Zé Rosendo, Zé Padeiro, Zezito, Zé Pequeno, Zé dos Santos (estrumo), Zé de Boinha (Tobias Barreto).

Por acidente de veículos automotores:

ABÍLIO GOMES (Av. Beira Mar), Adeilton (DIA), Aldevan (BR), Arquimedes (BR), Antônio Carlos - Zezinho da Barra (BR), Beto Alfinete (BR), Bezerra (BR), Carlos Alberto Bispo (Estrada da Caueira), César (BR), Chico Vilanova* (BR), DOCA (BR), EDNILTON PAIM (Pista, Abaís, Estância), Fabian (BR), Jairo (BR), Jones (BR), João Sacramento* (BR), Gilda (BR), Lycia Maria* (BR), Marco Suel (BR), Valdemir (Estrada de Siriri), Zé Leite (viaduto do DETRAN).

Por acidentes diversos:

Paulo Nery (queda de elevador em hospital)

Por disparo acidental de arma de fogo:

Edmilson - Missinho, Rastafári (Av. barão de Maruim, Aracaju), Eládio (Aracaju Praia Hotel), Elielson (Conj. João Alves), Marcelo (Delegacia de Salgado).

Por afogamento:

Manoel Souza Pereira (Manelito), Marileide Lima, Paulo Gordo.

Por suicídio:

Airton (casa), Benedito (Delegacia de Entorpecentes), Borjão (casa), Damião Cândido (Casa de detenção), Conserva (DEPCA), Edvalson Júnior* (motel), ELINALDO (BR 101), Seu Erasmo (casa), Gilmar Ângelo Cabral (casa), JORGE LUIZ (Via pública), Luiz Carlos (casa), Menezes (casa), Ralfran (POLINTER), Robertão (casa), Valmor (casa). 

Assassinados:

Agarivaldo (Costa e Siva), Amâncio (Centro), Anísio (Siqueira Campos), Adeilton (Itabaiana), Ademir Melo* (bairro Luzia), Araújo (Marcos Freire III), Armando (Bairro América), Carlos Alberto (BR - saída de Aracaju), Chiquinho (Rua de Alagoas), Cláudio (Delegacia de Itabaiana), Carlinhos Lambreta (Santos Dumont), Décio (Coroa do meio), Djair (Santos Dumont), Edinaldo (divisa Tobias Barreto/BA), Eide (Cafuz), Fábio Alessandro (Umbaúba), Flávio Santos (Frei Paulo), Francelino (Conj. Jardim), Francisco (Rua Rio Grande do Sul), Ferreirinha (Rosa Elze), Gilson Leite, Fofão (Conjunto Jardim), Gilmar (interior da Derof), Gabriel (Eduardo Gomes), Gilberto (Parque dos Faróis), Seu Humberto (Lagarto), JOSÉ ALEXANDRE DOS SANTOS (Zeca Diabo), Josenias (Marcos Freire III), Júlio César (Siqueira Campos), Júlio César Teixeira (Rua Siriri), Luiz da 7ª (posto de gasolina, BR 101), Luiz (DP de Itabaiana), Marcelo Hercos* (zona de expansão), Marcos Talibã (Umbaúba), Maria José (B. Cidade Nova), Mendes Neto (Mercado central de Aracaju), Messias ...uzinho (Barra dos Coqueiros), Morais (São Cristóvão), Paulo Sérgio (Barra dos Coqueiros), Pedrão (América), Roberto (Marcos Freire III), Romualdo (Derof), Reynaldo (São Cristóvão), Sérgio Figueiredo (Alagoas), Sônia (Rua Divina Pastora), Tadeu (São Conrado), Terrível (Jardim Centenário), Sidney pistolinha (Itabaianinha), Sócrates (América), Walter Lopes (centro de Aracaju), Wilson corretor (Centro comercial de Aracaju).

*Delegados de Polícia

domingo, 21 de fevereiro de 2016

A arte de comandar


A Polícia Civil não é só COPE, DHPP, Denarc, Deotap e GERB

Por Alberto Magalhães*

A cúpula da segurança pública mudará de novo. Mas, algo vai mudar? Os melhores delegados estarão nela, bem como estão na que está saindo, mas eles não são a Polícia. Esperamos, sim, que aprendam com os erros e acertos do passado para liderar e incentivar a tropa a realizar um profícuo trabalho. Afinal, acostumamo-nos com o pensamento sugerido que diz ser a cúpula, o comando, a chave para a segurança pública. Precisamos de mais agilidade e eficiência. E ficamos a esperar indefinidamente solução para as demandas históricas. Penso que fazer segurança pública não é como armar um jogo de xadrez. O tempo em que os generais, com um cachimbo na boca, se sentavam em mesas e traçavam estratégias para a vitória no campo de batalha, acabou. Nas grandes guerras a estratégia ficou em segundo plano. O que conta agora é o poderio bélico, de bombas, aviões, navios, armas e de homens. Coloquem outro Duque de Caxias no comando militar das três forças brasileiras e desafiem os Estados Unidos da América para nos atacar e verão o resultado.

Ora os bandidos estão nos atacando! Nas delegacias, nas residências, nos sítios, no comércio. Assassinam ostensivamente policiais militares, invadiram a 1ª DM, a 5ª DM, o Denarc, a DP de Itabaiana, a de Aparecida, etc., e já atentaram gravemente contra diversas autoridades do estado. O comando faz o planejamento, mas a tropa é essencial, cada homem é necessário, pois sem eles as bombas não são lançadas, os aviões não decolam, os navios não se movem. Imprescindível os comandantes, mas são os combatentes que morrem e se arriscam a fim de consumar a missão pretendida numa luta desigual, porque para o nosso inimigo não existe a lei, nem a ética e nem a honra. Na guerra todas as unidades são imprescindíveis, inclusive a que só dá suporte para o combate: sem os que providenciam o reabastecimento de combustível das naves, sem os que operam as informações de satélite, sem os que fazem manutenção e serviço nos equipamentos, nas armas e nos veículos de combate não haveria guerra. O que faz vigília para o inimigo não surpreender é igualmente importante. Não me deixem acreditar que sou descartável, e outro, e outros.

Não se faz a Polícia Civil só com o COPE, DHPP, Denarc e GERB. Para os quais se disponibiliza tudo. E as outras delegacias especializadas, de área e as do interior? Sem homens suficientes, sem condições de trabalho, sem motivação? Com profissionais desprezados em cada projeto produzido, preteridos do processo para o qual foram contratados. Não vemos mais as Seções de Investigações e Capturas em efetiva atividade. Os crimes rotineiros que o policiamento ostensivo preventivo não conseguiu atender, no seu turno, os policiais civis da área e das especializadas devem elucidar. Quando são feitas operações mirabolantes, com o helicóptero e centenas de policiais, no Santa Maria e Coqueiral é porque o Estado falhou, o poder público foi omisso.  Planejamento para coibir o crime é essencial, mas operações circunstanciais para inibi-lo configura-se estratégia paliativa. Já o poder de resolução de homicídios de repercussão, o auxílio aos integrantes das instituições fortes e aos políticos, bem como as informações privilegiadas ficam detidos nas mãos de um seleto grupo de delegados que integram o comando e que monopolizam as ferramentas de trabalho existentes nos principais núcleos de atuação.

É injusto, sobretudo, com a população desvalida de poder. Isso porque o interesse torna-se, sobretudo, midiático a fim de se dar visibilidade e prestígio somente àqueles que fazem parte do staff, ou seja, do grupo que naquele momento está no poder. Para que, se possível, se eternize no mando. Existe mais disputa entre grupos de delegados e com os segmentos que compõem a base, que outra coisa. Ficamos mentalmente cansados com essa tensão mal disfarçada. No desfecho das operações realizadas o que fica em evidência é o nome dos delegados que ascenderam aos cargos de cúpula, não a Polícia Civil. Como se só eles trabalhassem, fossem eficientes e necessários. Não os policiais civis ou os demais delegados “descartáveis”. Na Polícia Civil hoje só aparecem os “Duque de Caxias”, os caciques. Não é mais importante o caso do cash explodido na madrugada (quando nem gente tinha no banco) que os crimes comuns. O povo está sofrendo em cada esquina, nos ônibus, na porta de casa e os policiais que eram mais combativos, abnegados, com mais experiência foram desativados para não ofuscar o brilho dos delegados de carreira.

Quando membros da imprensa forem entrevistar o delegado participante da operação dê importância ao agente que pulou o muro e arriscou pegar uma bala na cara. Falem da equipe que tornou a operação possível. O agente João Ricardo foi promovido por bravura ou recebeu condecoração quando, sozinho, travou embate armado mortal com dois assaltantes na porta de casa comercial? E eu poderia citar muitos outros.  Qual cacique sai do Olimpo e nos faz visitas para conversar com a gente, visualizar as nossas condições de trabalho ou verificar como o delegado policial civil está gerindo a unidade? Em verdade, o agente e o escrivão não têm voz em sua própria casa. Não são verdadeiramente considerados como qualificados profissionais de segurança, detentores de cargo público autônomo em suas funções. O coronel é tão policial quanto o soldado recruta. Assim também deve ser na PC. Mas, há delegado que quer nos tratar como funcionário comum, daí surgem os impasses.

Há delegados que usaram o domínio administrativo para nos manipular e nos enfraquecer. Por exemplo, concedendo promoções e gratificações extras somente aos agentes próximos e até mesmo as senhas para acesso às ferramentas do trabalho investigativo virtual. Suprimindo prerrogativas. Limitando a natureza funcional de servidores policiais, comumente tolhidos em suas atribuições investigativas. Enfraquecendo assim toda a instituição. Existem agentes com 30 anos de atividade relegados na 2ª classe e outros que chegaram “por merecimento”, nos gabinetes, à 1ª classe quando tinham apenas oito anos na instituição. E a categoria só tinha três classes. Isso é um acinte e uma covardia. Agora, com a mudança das regras, existirá a promoção automática, porém os que já estão na 1ª classe irão para a recém-criada classe especial, e os da 2ª irão para a 1ª e se aposentarão nela. Não chegarão à classe final. Por tudo isso quando o governador Marcelo Déda assumiu o primeiro governo ganhávamos 10% dos vencimentos dos caciques. Como gorjeta de garçons, mordomos, serviçais. Queremos respeito. Precisamos de compromisso com o todo. Estamos todos entrincheirados frente ao inimigo social. É preciso uma gestão, à moda democrática, de coalizão; praças, oficiais, agentes, escrivães, peritos e delegados. Faz-se necessário um comando novo no novo comando. Nada vai mudar se ele não mudar.

*Alberto Magalhães é Agente de Polícia da SSP do estado de Sergipe.


sábado, 9 de novembro de 2013

O fracasso do Estado brasileiro


Alberto Magalhães*

O Estado é o guardião da ordem pública e do bem estar social e deve providenciar tudo o que for necessário para que o cidadão tenha preservados a sua saúde física e mental, a sua vida, a sua integridade física, o seu patrimônio e a sua educação pela qual haverá o eficiente médico, o professor, o juiz, o engenheiro, o legislador... Esses são os serviços essenciais prestados pelo Estado e em seguida, o cidadão deve ter ao seu dispor transporte, água e luz. Devemos lembrar que saneamento básico consta do rol prioritário na assistência à saúde.

O que vemos diariamente no Brasil, através da mídia, é o caos no transporte público e tantas comunidades sem saneamento básico, água potável, luz elétrica, escola, posto de saúde e delegacia de polícia operante. Vemos meliantes enfrentando a Polícia (portanto, enfrentando o Estado) em guerrilhas, com fuzis e metralhadoras, invadir órgãos de segurança para soltar criminosos e se apossar de armas do Estado, executar policiais e outros agentes da autoridade estatal, contrabandear armamento de grosso calibre em grande quantidade, estabelecer e consolidar o tráfico de drogas mais facilmente que indústrias e empresas legais conseguem se estabelecer. Também vemos um número alarmante de homicídios,roubos e menores inseridos na marginalidade.

Mas para demonstrar o fragoroso fracasso do Estado brasileiro ainda falta o fator da impunidade e de outro que falarei mais à frente. A impunidade não só é um mal que prestigia o mal original, como também gera a perigosa cultura da vantagem pessoal. Ora se outros se safam impunes eu também poderei sair impune, ou seja, eu também quero esse benefício concedido historicamente aos que tiveram acesso ao poder ou ao muito dinheiro.

A pressão social, no Brasil, ao invés de acabar com a impunidade e a corrupção alargou a abrangência destes entre os agentes públicos administrativos e políticos. No entanto os lesa-pátria estão incomodados com os baderneiros nas manifestações populares. Claro, eles não querem os holofotes apontando para a verdadeira baderna que eles fazem com as finanças públicas. Eles que negam ao cidadão mais modesto a oportunidade de ter dignidade social, sem a qual a dignidade humana fica relegada a uma simples teoria.

Já o outro fator, o ingrediente final, a cereja do chantili do comprovado fracasso retumbante do Estado brasileiro é a propagação pelas autoridades, constituídas para promover a saúde, a segurança e a educação de que lhes faltam os recursos necessários para cumprir o seu dever, para oferecer ao cidadão os direitos essenciais que dão sentido a formação de uma sociedade civilizada, governada por um Estado democrático de direito.

O carimbo do fracasso aparece quando vemos um chefe de Estado (seja presidente ou governador) dizer que não tem recursos suficientes para a saúde. Quando vemos um gestor da pasta da saúde dizer que existe a grande demanda porque o povo adoece demais ou que está vivendo mais – porém não vive melhor, por causa exatamente da ineficiente política estatal de saúde. Quando o governo diz que no Brasil não há médicos suficientes para atender a população.

Quando vemos os chefes ou comandantes de polícia a toda hora falarem que não existem policiais suficientes para dar segurança à população, mas “vão fazer um remanejamento de policiais” para determinada área. Esses brilhantes “estadistas” vão tirar policiais de onde? Dos 2 % que estão lotados em outros órgãos? Ora a defasagem de efetivo é de 100 %, em geral. O mesmo acontece com relação a juízes e promotores. Os processos se arrastam lentamente, ora em desfavor da sociedade, nos crimes, ora em desfavor dos cidadãos, na área cível. Além do atraso doloso do Estado – leia-se, gestores mal intencionados - em cumprir com a sua responsabilidade de pagar os valores devidos.

O fracasso do Estado está anunciado quando estudiosos do Brasil informam que existem mais de 100 mil criminosos para serem presos – grande parte por vários mandados de prisão - e que em cada 100 criminosos que não são presos em flagrante apenas 20 deles são identificados, 10 são presos e só cinco cumprem pena. Estou usando dados “redondos”, aproximados. Resolvida essa demanda todo o efetivo – já defasado - do judiciário precisará crescer vertiginosamente. O fracasso do Estado está visível quando vemos faltarem celas para abrigar os que estão foragidos ou prestes a delinquir, ou mesmo suficiente para os que já estão recolhidos no sistema penitenciário.

Mas todo mundo sabe que há recursos suficientes para todos esses serviços essenciais, sabe que boa parte deles é desviada para os bolsos de gestores públicos da União, dos Estados e dos Municípios, que os recursos são gastos com as mordomias e benesses desses gestores, que os recursos são mal usados em obras superfaturadas e de má qualidade - que logo se acabam e têm que ser feitas de novo, que também servem para pagar os CCs de assessores políticos desnecessários, e em valores maiores que pagos aos CCs técnicos, e que há gasto demasiado com a propaganda política dos governos.

Quando temos conhecimento de que existe uma farra dos recursos nas casas legislativas do país e em setores do judiciário, e de que o Brasil permanece no topo da lista mundial de índices do atraso e da injustiça social, depois de tanta luta de brasileiros contra a ignorância, a pobreza e a desonestidade, na construção de uma identidade nacional digna, nos vem a impressão de que já é tarde demais para reparar as variadas mazelas impregnadas em nosso país pelo iníquo sistema político que nos rege.

*Alberto Magalhães é funcionário público do estado de Sergipe e presidente do Centro de Estudos e Ação para o Progresso Humano e Social - CEAPHS.

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Reminiscências sobre um corpo

(Luiz da 7ª DM, um guerreiro anônimo)

Vá meu colega, meu amigo. Vi seu corpo inerte, desnudo, ferido de morte naquela maca no IML, nesta fatídica manhã, fotografia tatuada na minha mente e alma. Antes estavam gravados a sua cara de Brutus com o seu coração de Bob esponja. A impotência frente a um corpo já sem o seu espírito sempre nos comove ao ponto de impregnar o ambiente de um silêncio denso, solene, imenso a nos imergir no pensamento comum a todo mortal. Havia mais três corpos. Embora bem próximos, tão distantes. Um ignorava a presença do outro, a sua origem, a sua história, o seu sentimento na hora fatal, o seu destino e sua sorte. A morte mútua não revelava nenhuma interação entre vocês, não traduzia nenhuma afinidade, a não ser a ausência de vida que não os tornava iguais, mesmo ali em estado semelhante. Por um instante ficamos só nós três: você, eu e a solidão da existência humana com o seu nascimento e morte, no seu enlace que afinal antes que uma ruptura, é uma sequência predeterminada pelo criador. “Morte, sina dos viventes”. Mesmo assim não era para ter sido assim a sua passagem: por causa banal, mesquinha, injusta. Mais um guerreiro anônimo que tomba no front da batalha desigual, porque o seu adversário é desprovido de regras e de honra. 

Agora nunca mais trabalharemos juntos num plantão na delegacia dos desamparados, naquele bairro excluído pelo poder público. Não mais lhe perguntarei: “Brutus, cadê Olivia Palito?” Nem mais verei a resposta do seu sorriso franco. Não mais tomarei aquela latinha de cerveja na sua companhia (sob a sua segurança, na verdade, você estava trabalhando) naquele lugar onde você ganhou dinheiro para dar assistência à sua família e onde ganhou a sua morte em troca. Quando eu cantar você não mais dançará, quando eu dançar você não mais sorrirá de mim. O meu descompasso agora será o do não encontro com você. Lá não pararei mais na minha passagem pra lhe ver e bebericar alguma coisa. Lugar onde você foi arrebatado dos seus entes queridos. A caneta que negou a sua ascensão funcional e financeira ajudou a selar a sua morte prematura.

Não nos encontraremos mais até que aquela imprevisível e gelada brisa venha para nos juntar em lugar melhor que esse de imperiosa catarse, onde aportamos quando saímos da primeira morada e da qual muitos chegam mortos ou chorando, como a temer algo que os espera.

Vá meu amigo, você morreu, mas sei que para Deus você não viveu em vão. És uma semente a frutificar em outro lugar... 

Alberto Magalhães

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Carlinhos cabeça branca não morreu


Ao contrário de um boato surgido, Carlinhos cabeça branca não morreu. Não.  Ele não nos deixaria tão cedo. Ele ainda tem que ir pra sua casa de veraneio na praia e pilotar seu bugre velho fumando aquele saboroso e maldito cigarro com gosto delicioso de mato seco. (não obstante vários amigos lhe dizerem: abandone esse veneno!) Mas ele precisava saciar sua vontade de absorver e expelir fumaça. Alguém que nunca fumou já imaginou quanto prazer existe no ato de fumar para o fumante contumaz? ou no carteado para o jogador,  na pelada para o futebolista, na cervejinha para o beberrão, nas letras para o escritor – e para o leitor, no namorar para o enamorado, no pescar para o solitário? Carlinhos cabeça branca precisa ir rondar com Catita, fazer pouco caso dos  formalistas e cuidar da sua família na casa que, com sacrifício e orgulho, construiu no Orlando Dantas nos tempos das vacas magras da Polícia Civil. Precisa ir conversar com o chefe maior – chamando-o de pai véio – e ponderar a favor de alguém. Em sua espontaneidade se confundiam o cidadão, o colega, o amigo, o homem humano... Ando tentando encontrá-lo pelos  corredores do COPE, nessas viaturas que circulam pela cidade ou no Recanto da Comida Caseira. Qualquer hora dessas irei encontrá-lo preocupado comigo e ouvir algumas das suas advertências que sempre me aconselhavam. Carlinhos de cabelos brancos derramados na sua alma alva. Está ficando difícil achá-lo nesse mundo moribundo de tantos valores mortos. Mas ele está por ai, depois de nos pregar uma peça quando se fingiu de morto. Isso eu não vi, felizmente. Por isso a sua imagem está bem viva, sempre viva a ensinar simples, mas profundas, lições para os tolos como eu.

Alberto Magalhães

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Direito penal